'Foi apenas um acidente': Diretor dá explicação inesperada para final do filme
10/12/2025
(Foto: Reprodução) Vahid Mobasseri em cena de 'Foi apenas um acidente'
Divulgação
O final de "Foi apenas um acidente", filme vencedor da Palma de Ouro em cartaz desde a última quinta-feira (4) no Brasil, é talvez um dos mais poderosos dos últimos anos. Ele fica ainda melhor graças à explicação um tanto inesperada — pelo menos para mim — dada pelo diretor Jafar Panahi em entrevista ao g1.
g1 já viu: 'Foi apenas um acidente' estica a corda da tensão com leveza para fazer o filme do ano
A conversa foi publicada no final de outubro, pouco depois da visita do cineasta iraniano ao Brasil para representar seu filme e receber uma homenagem na Mostra Internacional de São Paulo. Na época, um bom tempo antes de seu lançamento nacional, achei melhor esconder a resposta lá no final, para evitar possíveis spoilers.
Agora, alguns dias depois da disponibilidade da obra incrível para o público geral, achei que valia destacar a interpretação de Panahi para que mais pessoas pudessem ver o desfecho com seus olhos.
Por isso, fica aqui mais um aviso que vale mais continuar a ler quem já assistiu ao filme — por mais que a resposta não faça tanto sentido para quem não viu ainda.
Assista ao trailer de 'Foi apenas um acidente'
"Pode ser que aquele som que se ouve no final nem fosse realidade. Talvez ainda seja o pensamento do protagonista. Porque ele comenta que o som está em seu ouvido há cinco anos", me disse o cineasta com a ajuda de uma tradutora, que passou a explicação do farsi para o português.
"De qualquer maneira, se você pensa bem, não é muito rápido? Essa pessoa realmente já chegou até ele? Depois fica um silêncio e a pessoa vai embora. Essa foi uma piscadela para ele acordar. E aquela história de ajudar a mulher dele a ir ao hospital, será que não mudou alguma coisa nele? Então, temos esperanças para o futuro."
Ele se refere, é claro, aos momentos finais em que o protagonista (Vahid Mobasseri) aparece enquanto ajuda a família a carregar um carro. Ao voltar para dentro de casa, ele para de costas para a câmera, enquanto o som de passos com um ruído mecânico se intensifica.
Horas antes, ele tinha passado grande parte do filme com um desconhecido preso em sua van até confirmar se aquele era ou não o guarda que o tinha torturado durante seu tempo na prisão do regime.
"Mas, se não for só imaginação, podemos pensar na possibilidade da continuação do ciclo (de violência, tema central da trama). E isso tudo depende, sim, da pessoa que está assistindo."
Para escrever o roteiro, Panahi se inspirou no próprio período que passou preso pelo regime. "Foi apenas um acidente", aliás, foi filmado de forma clandestina pelo diretor, que nem tentou conseguir permissão da censura do país para rodar o projeto.
A vitória no prêmio principal do Festival de Cannes, em maio, elevou a produção a um dos prováveis indicados à categoria de melhor filme internacional do Oscar 2026 — o que faz dele um dos grandes rivais do brasileiro "O agente secreto".
Perseguido pelo governo iraniano por anos, Panahi inclusive foi condenado a um ano de prisão no começo de dezembro por "propaganda" contra as autoridades do país. Até por isso, seu filme representa a França na corrida pela estatueta americana.
Mohamad Ali Elyasmehr, Majid Panahi e Hadis Pakbaten em cena de 'Foi apenas um acidente'
Divulgação