Vidal Assis faz resplandecer o lirismo melódico e poético do samba de Elton Medeiros em belo e estrelado álbum

  • 13/11/2025
Vidal Assis é parceiro de Elton Medeiros (1930 – 2019) em músicas inéditas do álbum ‘Negro samba lírico’ Leo Martins / Divulgação Kuarup ♫ OPINIÃO SOBRE ÁLBUM Título: Negro samba lírico – Vidal Assis canta Elton Medeiros Artista: Vidal Assis Cotação: ★ ★ ★ ★ ♬ Negro samba lírico é o título mais apropriado para o álbum que o cantor Vidal Assis lança amanhã, 14 de novembro, em CD e em edição digital da gravadora Kuarup. O nome é perfeito porque, no disco, Vidal dá voz aveludada e extremamente afinada ao samba do compositor carioca Elton Medeiros (22 de julho de 1930 – 3 de setembro de 2019), nascido há 95 anos e falecido há seis. Extraordinário melodista, Elton tinha habilidade para encadear notas musicais e, com elas, gerar sambas maviosos de beleza rara e potencializada pelo lirismo dos versos de parceiros poetas e/ou letristas do naipe de Cartola (1908 – 1980), Paulinho da Viola e Zé Ketti (1921 – 1999), também eles criadores de melodias excepcionais. Um desses parceiros poetas, mas não melodista, é Hermínio Bello de Carvalho, idealizador com Vidal Assis deste songbook estrelado de Elton Medeiros em que o politizado Vidal enfatiza o lirismo da arte negra em contraponto a uma visão eurocentrista que associa a sofisticação e o arrebatamento artístico sobretudo à produção dos musicistas brancos europeus. Negro samba lírico – Vidal Assis canta Elton Medeiros é o segundo álbum do cantor e compositor carioca de 40 anos. O primeiro, Álbum de retratos (2016), foi lançado há nove anos. Luxuoso, o time de convidados do songbook de Elton inclui gigantes como Chico Buarque, João Bosco e o próprio Paulinho da Viola. Esse time valoriza o álbum Negro samba lírico, mas basta ouvir a abordagem de Peito vazio (Elton Medeiros e Cartola, 1974) – em gravação em que resplandece o toque do bandolim de Maycon Julio – para perceber que Vidal Assis se garante sozinho. É fato que algumas gravações, como a do sublime samba Onde a dor não tem razão (Elton Medeiros e Paulinho da Viola, 1981), tangenciam demais os registros originais (no caso, o feito pelo próprio Paulinho em álbum de 1981). Por outro lado, o canto preciso de Mascarada (1964) – obra-prima da parceria Elton com Zé Ketti – evidencia que Vidal em nada fica a dever à gravação feita por um dos maiores cantores do Brasil, Emilio Santiago (1946 – 2013), para o álbum Aquarela brasileira 5 (1992). Tanto que, quando entra a voz já fanhosa de Chico Buarque, há quebra de clima que acentua o desnível entre o canto do anfitrião e o canto do convidado, de presença ainda assim emblemática na faixa. João Bosco foi mais diferença como violonista e cantor na gravação de Pressentimento (Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho, 1968). O violão singular de Bosco é o único instrumento do fonograma. Faixa já apresentada em single que anunciou o álbum em 19 de setembro, Folhas no ar (1965) – samba menos conhecido de Elton com Hermínio lançado há 60 anos pela cantora Elizeth Cardoso (1920 – 1990) no álbum Elisete sobe o morro (1965) – reitera o lirismo das letras e melodias do cancioneiro de Elton em gravação que junta Vidal Assis com Paulinho da Viola. Além da ficha técnica estelar, o álbum Negro samba lírico também tem valor adicional por apresentar músicas inéditas de bom nível, casos de Um amor singular – parceria de Elton com Vidal Assis e Ronaldo Bastos – e de Colhendo imagens (Elton Medeiros e Vidal Assis). Em Colhendo imagens, os versos “Mas é na noite também que ainda choro por ela / Dissolvendo as imagens que um dia eu guardei no olhar / E assim faço as tintas da dor / E meu peito é a tela / Onde insisto em traçar / O perfil da saudade e o desejo de vê-la voltar” aludem poeticamente à perda da visão que acometeu Elton Medeiros nos últimos anos de vida do compositor. Se Moema morenou (Elton Medeiros e Paulinho da Viola, 1981) faz o álbum entrar na roda do samba-chula da Bahia, com as palmas de Munique Mattos e o arsenal percussivo de Magno Julio (agogô, congas, pandeiro, prato e reco-reco), A maioria sem nenhum (Elton Medeiros e Mauro Duarte, 1966) faz a cuíca chorar para denunciar a injustiça social em discurso turbinado com a récita, no compasso do rap, do poema Como eu quero ser lembrado, do próprio Vidal. A ativista Bia Ferreira participaria da faixa, mas ficou fora do disco por questões contratuais. Na mesma linha política, mas sob outro prisma, o inédito samba-canção Navegações – letrado por Nei Lopes a partir da melodia construída por Elton e Vidal – propõe outro olhar para a colonização dos países da América Latina por nações europeias. Música que há quase 30 anos deu título a álbum do compositor enfocado no songbook, Mais feliz (Elton Medeiros, Carlinhos Vergueiro e Paulo César Feital, 1996) realça o brilho do já mencionado bandolim de Maycon Júlio – instrumento recorrente no disco – em gravação que junta as vozes de Vidal Assis e Ayrton Montarroyos, grande cantor de alma antiga, afinado com a nostalgia da letra de Paulo César Feital. Há também nostalgia no desalento afetivo que pauta Baile dos amores, inédita surgida de melodia de Elton e Cristovão Bastos letrada por Vidal. O piano de Cristovão é o único instrumento da faixa, mas, na maior parte do álbum, quem dá o fino acabamento instrumental é o Trio Julio, formado por Magno Julio (percussões), Marlon Julio (violão de sete cordas) e Maycon Julio (cavaquinho). Também em tom melancólico, o inédito samba-choro Iluminada – composto por Elton com Vidal e gravado pelo cantor com Beatriz Rabello – presta reverência na letra ao compositor Valzinho (1914 – 1980) e à cantora Zezé Gonzaga (1926 – 2008), voz da era do rádio. No arremate do álbum, O sol nascerá (Elton Medeiros e Cartola, 1964) faz raiar a esperança no horizonte com o lirismo que rege as 14 gravações deste excelente Negro samba lírico. Ainda que nem todas as melodias inéditas façam frente ao já conhecido cancioneiro de Elton Medeiros, o nível é sempre bom. Vidal Assis apresenta songbook à altura do compositor. Capa do álbum ‘Negro samba lírico – Vidal Assis canta Elton Medeiros’, de Vidal Assis Diego Lima com arte gráfica de Rosana de Alencar

FONTE: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2025/11/13/vidal-assis-faz-resplandecer-o-lirismo-melodico-e-poetico-do-samba-de-elton-medeiros-em-belo-e-estrelado-album.ghtml


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