Paula Fernandes relembra críticas a versão de 'Shallow': 'Sei que tem quem não goste, mas isso faz parte'
04/12/2025
(Foto: Reprodução) Paula Fernandes fala de "Shallow", Adele e nova versão internacional
Há sete anos, a versão brasileira de "Shallow", feita por Paula Fernandes, rendeu vários memes antes mesmo de ser lançada. Boa parte dos comentários era sobre o fato de a versão misturar o inglês com o português no refrão ("Juntos e Shallow Now"). Além disso, a música, inicialmente, contava com a participação de Luan Santana. Mas o cantor cancelou a participação no DVD da artista dias antes da gravação, fazendo com que o registro ao vivo fosse solo – e que a amizade entre eles chegasse ao fim.
Mas nada disso deixou marcas em Paula Fernandes. Em entrevista ao g1, a cantora disse que ficou "zero preocupada" com os comentários sobre "Juntos" quando foi escrever "Amar de novo", versão de "Set Fire To The Rain", de Adele.
A música foi lançada na última quinta-feira (27) e faz parte do novo EP da artista, "Simplesmente, eu", que traz uma nova fase de Paula Fernandes, na qual resgata a cantora de 2011 e seu clássico corselet.
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"'Juntos' me trouxe tanta coisa boa. É a minha canção mais tocada nas plataformas digitais. E com ela eu ganhei um Grammy. Sei que tem quem não goste, mas isso faz parte. Quem não é criticado? Ainda mais quem é ousado", afirmou a cantora.
Em entrevista, a artista também falou sobre o processo para autorização de "Amar de novo" por parte de Adele e contou como foi escrever a versão da faixa. "Eu não sabia o que eu ia falar, eu não sabia qual direção que eu ia tomar."
Leia a seguir a entrevista com Paula Fernandes:
Paula Fernandes anuncia fase de "resgate de si" com álbum "Simplesmente, eu"
Reprodução/Instagram/Divulgação
g1 – Entre tantos artistas e tantas músicas, por que a decisão de fazer uma versão de "Set Fire To The Rain"?
Paula Fernandes - É uma música que sempre me emocionou muito. Ela é muito poderosa por todo contexto, né? Exige um potencial vocal também, uma entrega. A Adele é referência de voz no mundo.
E aí a gente entrou em contato com a editora, com os empresários, para ver a possibilidade de eu fazer, e ela aprovar. É um processo burocrático, chato. Mas chegou um momento em que ela falou: "ah, ok. Pode mandar a versão que, se eu gostar, vou aprovar".
Ela pediu uma versão em português de voz com violão ou piano. A gente mandou voz e piano, naquela torcida, orando para todos os santos. Aí ela ouviu e não mexeu em nada na letra.
g1 - Até ia te perguntar que isso... Ele não pediu para mudar nenhuma palavra, nada?
Paula Fernandes - Isso é o que mais me encanta em tudo, porque eu preciso dizer o quanto isso é importante para um autor. Eu tive licença poética, não é uma versão literal.
O processo criativo é sempre curioso. Fui ouvindo a música, e a ideia da letra em português veio a partir da própria em inglês. Eu não sabia o que eu ia falar, eu não sabia qual direção que eu ia tomar, já que eu não estava simplesmente descrevendo o que ela cantava em inglês.
Fui entendendo, compreendendo que se tratava de uma mulher que tinha sido traída, perdoou e foi traída de novo, e que não ia aceitar perdoar a segunda vez. Achei que ficou forte o resultado.
Trouxemos uma roupagem um pouco mais sertaneja para ela, já que eu tinha que trazer minha alma, o meu jeito de fazer, mas respeitando todo aquele processo dela. Agora ela é nossa. E com aval da Adele. Para mim, é uma benção. Mais um acontecimento da minha carreira.
g1 - E vocês chegaram a conversar diretamente ou não?
Paula Fernandes – Não. Até brinquei: "A gente ainda não se falou, mas ela me ouviu". Ela me ouviu e ainda aprovou a letra que eu fiz. Então eu estou assim... campeã da Copa do Mundo.
Paula Fernandes anuncia fase de "resgate de si" com álbum "Simplesmente, eu"
Cadu Lando/g1
g1 - Conversei com a Tiê recentemente, e ela comentou que não tem direito aos direitos autorais de "Noite", versão de "La notte". Fica tudo para o Giuseppe Anastasi, compositor da música original. Como que é que funciona esse acordo no seu caso?
Paula Fernandes - Depende. É algo muito personalizado. Cada caso é um caso. Já teve versão que ganhei uma porcentagem 'x'; em outras foi uma liberação, não tinha uma porcentagem. Então, eu prefiro nem entrar no mérito, porque isso para mim é indiferente.
Eu não faço a versão porque eu vou monetizar com ela. Faço a versão, primeiro pela grande mega artista me liberar para fazer uma versão em português, e por poder interpretar uma música linda como essa. Poder mostrar o potencial também como intérprete, não só como autora.
g1 – A Adele comentou que ela teve a inspiração da música quando um isqueiro dela falhou na chuva. Queria saber qual foi a sua inspiração pra versão? Antes de começarmos a entrevista, você comentou sobre traição, que já passou por esse tipo de situação...
Paula Fernandes – Pois é, quem nunca...
Mas foi como eu disse, a própria letra em inglês foi me inspirando a falar em português. O processo de inspiração, a gente não consegue explicar. Só que quando tem que ser, ela simplesmente acontece.
As músicas que acontecem na minha vida, que se tornam conhecidas e mais apreciadas, são geralmente as que acontecem mais rápido.
Então numa noite, sentei pra fazer a versão, e ela aconteceu assim. Fui ouvindo as palavras e foi vindo a caminho, o rumo que essa história ia tomar.
É engraçado que, na hora que eu tô construindo a música, às vezes eu começo pelo fim. Essa, por exemplo, eu comecei por "Se Deus nos traz um por um e não nega, não nega, não importa quem...". Foi uma das primeiras frases que pintou.
g1 - Você lembra onde você estava exatamente, em quanto tempo escreveu?
Paula Fernandes - Eu estava em casa. Acho que acendi a lareira. Aquele cenário perfeito da tranquilidade que era rara, que se tornou mais frequente, principalmente depois da pandemia, e que eu pude resgatar o tempo para compor.
Acho que isso era essencial que acontecesse. Esse equilibrar a vida pessoal com a vida profissional porque eu estava trabalhando como uma camela. E eu precisava desse desacelerar justamente para resgatar a alma da obra. Nesse dia, eu pude estar tranquila para compor mais uma música.
g1 - Versão é algo difícil de se fazer, muita gente já critica antes mesmo de a música ser lançada. Você já passou por um processo como esse com "Juntos", quando sofreu várias críticas e teve o fim de uma amizade com Luan Santana também. Você teve medo de fazer essa versão da Adele agora, pensando no que você já passou? Ficou preocupada com tudo isso na hora de escrever?
Paula Fernandes em clipe de "Amar de novo"
Reprodução/YouTube
Paula Fernandes - De coração? Zero. Mesmo porque "Juntos" me trouxe tanta coisa boa. É a minha canção mais tocada nas plataformas digitais. E com ela eu ganhei um Grammy.
Eu sei que tem quem não goste, mas isso faz parte. Quem não é criticado? Ainda mais quem é ousado. Então eu não tenho medo de ousar, não tenho medo de ser eu, eu não tenho medo de arriscar.
E sucesso é resultado de risco. Posso errar, mas eu vou acertar também. E eu acho que aquilo que me emociona vai emocionar alguém. O Almir Sater sempre fala isso. Se emocionar uma pessoa, para mim, já está jogo ganho. Para mim, está tudo certo.
Eu não tenho essa sangria. Gente, eu já conquistei, eu já cheguei aonde eu queria. Eu sou uma pessoa vitoriosa, abençoada. Tudo o que eu quis, eu alcancei. Agora o que é que tem depois do céu?
Tem um novo céu para conquistar, tem tanta coisa legal para conquistar.
Mas eu fico muito tranquila, porque se é uma coisa que eu tenho segurança é com o que eu faço. Eu tenho plena convicção de que eu faço bem feito, isso não é uma prepotência ou arrogância, mas é porque eu faço com tanta alma que é a minha verdade. Como que a verdade pode ser errado?
A verdade não pode ser um erro, né? Eu sou autêntica e isso é o que é. E eu sei que agrada muita gente também.
g1 - E qual é esse "novo céu" que você comentou e que quer alcançar?
Paula Fernandes - Menina, você sabe que tem coisas que eu tô conhecendo agora. Eu sei que agora o meu GPS tá melhor, tô com as asinhas mais fortes.
Mas tem muita coisa linda para fazer. Ser compositor é bom por isso. Porque eu mesma fico surpresa com o que eu trago para esse mundo. A gente, nada mais é do que um instrumento para transmitir boas mensagens. Eu me preocupo com a mensagem.
Não gosto de falar bobagem em música. Não é que eu estou aqui dando de certinha e caxias, não. Mas de certa forma eu sou caxias, sim. E tem essa responsabilidade. Como autora, como intérprete, como pessoa também, porque eu sou pessoa pública. As pessoas acabam tendo como referência.
Cantora Paula Fernandes abriu o show do Navio Barretos 70 anos.
Matheus Croce/TV Tribuna