Para o mundo, música brasileira ainda é sinônimo de bossa nova. Por quê?

  • 05/11/2025
(Foto: Reprodução)
Para o mundo, música brasileira ainda é sinônimo de bossa nova. Por quê? O país da Tropicália, do samba, do sertanejo, do forró, do tecnomelody, do Clube da Esquina, da pisadinha, do arrocha e do funk ainda é o país da bossa nova. Pelo menos quando o assunto é o que gringos pensam sobre música brasileira. O violão dedilhado, a voz sussurrada e uma elegância melancólica refletem no som de três das revelações musicais mais comentadas de 2025: a britânica Olivia Dean, a islandesa Laufey e a filipina Beabadoobee. A cantora inglesa Olivia Dean Divulgação/Universal Music Nascidas entre 1999 e 2000, essas cantoras não têm origem brasileira, mas parecem ter passado anos caminhando por Ipanema ou vendo barquinhos em Copacabana. São delas músicas com vocais delicados e arranjos minimalistas que dão a impressão de que o mundo está em câmera lenta. A trinca de jovens reforça a ideia de que o Brasil ainda é o país da bossa nova, um estilo relativamente pouco ouvido e pouco influente no Brasil. Não dá para ignorar que movimentos como Tropicália e o Clube da Esquina foram e são redescobertos por estrangeiros. Kurt Cobain, do Nirvana, expressou admiração pelos Mutantes, e Alex Turner, do Arctic Monkeys, citou Lô Borges. O funk foi parar nos rankings do streaming turcos e ucranianos, por exemplo. Nesse contexto, faz sentido lembrar ainda do impacto global de hits sertanejos dançantes como “Ai se eu te pego” e “Tchê Tchererê Tchê Tchê” no começo dos anos 2010. Astrud Gilberto, ícone da bossa nova Reprodução/ TV Globo Mas nada disso mudou a percepção internacional de que somos o país da bossa. Para quem não é brasileiro, o som do Brasil ainda é João Gilberto, Tom Jobim, Astrud Gilberto. Há sessenta anos. Em 1965, João Gilberto e Astrud Gilberto ganharam o Grammy de Álbum do ano com “Getz/Gilberto”. “The Girl from Ipanema”, cantada por Astrud, levou o prêmio de Gravação do Ano. Na mesma edição, os Beatles levaram a estatueta de Artista Revelação. Em 2023, o Brasil voltou a disputar um dos principais prêmios do Grammy, justamente na categoria Revelação, com Anitta. A popstar carioca certamente é um dos nomes que espalha a música brasileira (o funk, principalmente) pelo mundo, em um pacote global que inclui altas doses de reggaeton e pop. Em alguns momentos, também flertou com a bossa nova: como na balada “Will I See You”; e na era “Girl From Rio”. É mais uma prova da força da bossa. Existem várias. A cantora islandesa Laufey Divulgação Billie Eilish escreveu uma música mais mansa e a batizou de “Billie Bossa Nova”. Ela disse que "Garota de Ipanema" era uma de suas músicas preferidas de todos os tempos. Certa vez, fui entrevistar Alessia Cara, subestimada cantora canadense, e perguntei o que ela conhecia de música brasileira: a primeira referência era bossa nova. Nunca tinha ouvido falar de Mutantes. Billie também demonstrou não conhecer Caetano Veloso quando foi informada que o cantor a havia citado em uma música. Para elas, e para quase todas, a estética da música brasileira é praiana, intimista, suave. E perfeita para fones de ouvido. O som é sofisticado sem fazer esforço, melancólico sem drama, e funciona como “marca Brasil” em qualquer contexto: trilha de filme, série ou festa com pegada cosmopolita e refinada. Há também um fator estético: o que o mundo hoje chama de pop ASMR, ou pop sussurrado, tem herança da bossa nova. O público global procura intimidade, arranjos discretos, voz baixa no fone de ouvido. E, curiosamente, esse é justamente o estilo que João Gilberto já praticava há mais de 60 anos. O Brasil de fora, portanto, continua associado à suavidade, à introspecção e ao charme da bossa. Capa original do álbum 'Chega de saudade', de João Gilberto Reprodução A bossa nova foi o primeiro gênero brasileiro a conquistar o mundo, ainda nos anos 50 e 60. Seus standards entraram em paradas internacionais, cruzaram com o jazz, influenciaram músicos de fora e se tornaram a primeira imagem sonora que muitos tiveram do Brasil. O pianista Sérgio Mendes (1941-2024) se tornou a principal figura para fortalecer a presença da bossa no mercado americano: cravou 14 músicas no Hot 100 da revista “Billboard”, incluindo duas no quarto lugar. Ironia à parte, é fascinante: o país mais ruidoso, diverso e ritmicamente inventivo do planeta ainda é lembrado lá fora por seu sussurro elegante. A bossa nova não perdeu relevância. Ao contrário, ela se mantém viva, reciclada e reinterpretada por artistas globais, enquanto outros sons continuam lutando para vingar de vez fora do Brasil. No fim, é uma mistura de charme, história e “exportabilidade”. O Brasil continua inventando ritmos e gêneros que mudam o jogo, mas, quando alguém toca o play em outro país e pergunta “isso é brasileiro?”, é provável que a resposta seja sempre: “bossa nova, claro”.

FONTE: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2025/11/05/para-o-mundo-musica-brasileira-ainda-e-sinonimo-de-bossa-nova-por-que.ghtml


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